domingo, 20 de maio de 2012

CUBISMO E ARTE AFRICANA:TUDO A VER...

http://www.pesquisaemdebate.net/docs/pesquisaEmDebate_9/artigo_4.pdf
ARTE MODERNA E O IMPULSO CRIADOR DA ARTE AFRICANA
Elza Ajzenberg, Kabengele Munanga


Quando Drogba acabou com a guerra civil na Costa do Marfim

Do UOL Esporte
Em São Paulo
  • Atacante propôs que jogo fosse disputado na sede rebelde e conseguiu acabar com a guerra em 2007
A importância do astro Didier Drogba para a Costa do Marfim não se restringe aos limites do gramado. O atacante do Chelsea, da Inglaterra, já conseguiu usar o futebol como arma para acabar com uma guerra civil que se arrastava por cinco anos no seu país.
O episódio ocorreu em março de 2007, no confronto contra Madagascar, em partida válida pela qualificação da Taça das Nações Africanas. Mas não era apenas a vitória que estava em jogo. Na época, o craque exigiu que a partida fosse disputada em Bouaké, que era conhecida como a capital da rebelião.
A cidade era sede das tropas rebeldes do norte, de origem islâmica e com menor poder aquisitivo. Os guerrilheiros enfrentavam o exército do governo, ao sul do país, ligado ao cristianismo e às classes mais favorecidas. A nação ficou dividida numa guerra sangrenta, que só acabaria por causa da paixão do país pelo futebol.
O jogo no Bouaké Stadium uniu rebeldes e simpatizantes ao governo durante um período de cessar fogo. Um tanque rebelde conduziu a seleção liderada por Drogba ao estádio. E, antes do começo da partida, 25 mil fãs cantaram o hino do país.
Na tribuna do estádio, o presidente Laurent Koudou Gbagbo ficou ao lado do guerrilheiro Guillaume Kigbafori Soro, que hoje é primeiro-ministro do país. A Costa do Marfim goleou Madagascar por 5 a 0. No dia seguinte, os jornais marfinenses noticiavam: “Cinco gols para acabar com cinco anos de guerra”. Na ocasião, Drogba disse: “Foi como se a Costa do Marfim tivesse renascido”.
Era o desabafo de um jogador que se tornou herói de uma nação ao conseguir fazer com que a paixão pelo futebol se tornasse algo maior e mais nobre. A emoção tomou conta até mesmo dos soldados rebeldes que conduziram Drogba para fora do estádio. Muitos deles apertaram a mão do ídolo.
Outros puxaram câmeras fotográficas para registrar o momento em que uma partida de futebol ganhou outro significado. “Drogba e a seleção conseguiram fazer em 90 minutos o que os políticos não conseguiram fazer durante anos: unir a Costa do Marfim”, disse Guy Denis Koné, rebelde das forças de oposição, que assistiu ao jogo no estádio.
As tropas do governo ficaram nas arquibancadas, para simbolizar a união do país. Era a primeira vez que os soldados do governo estiveram na capital rebelde desde o começo da guerra civil. E a primeira vez que os dois inimigos estiveram lado a lado, sem animosidades.
“Quando eu cheguei aqui, senti apreensão e esperança ao mesmo tempo”, disse o oficial Christophe Diecket, em entrevista à revista Vanity Fair. “Ocorreram muitas mortes. Nós sabíamos que era o momento de deixar essa guerra de lado. Isso não poderia ter sido feito por outra pessoa. Apenas Drogba. Foi ele que nos curou dessa guerra”

quarta-feira, 16 de maio de 2012

História da escravidão negra no Brasil


Na terra e no cais
Coluna no GLOBO
Míriam Leitão - 13.5.2012

Rugendas: Mercado de escravos do Valongo - RJ

Domingo passado, fui andar com historiadores pelo Cais do Valongo, pelo antigo mercado de escravos e pelo Cemitério dos Pretos Novos. Revisitar a História que aflora no Rio impressiona. A brutalidade do sistema escravagista é maior do que temos em mente. Um milhão de escravos desembarcaram na cidade. Os saudáveis eram levados para o Mercado do Valongo; os que morriam nos primeiros dias, jogados num terreno.
O Centro do Rio está todo sendo escavado para a reforma do porto, e foi assim que encontraram o famoso Cais do Valongo, principal porta de entrada de escravos no Brasil. Do Rio, eram distribuídos para a mineração, as plantações de café e usinas de açúcar.
Da caminhada, fiz um programa para a Globonews junto com o jornalista Cláudio Renato. Conversei com o historiador Cláudio de Paula Honorato, autor de dissertação de mestrado na Universidade Federal Fluminense (UFF) sobre o que acontecia com os que chegavam saudáveis, a venda no mercado; e com Júlio César Medeiros, autor de um livro, fruto do seu mestrado na Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), com o título “À flor da terra: o cemitério dos pretos novos no Rio de Janeiro”. É possível ver, no buraco aberto no chão, misturados à terra, arcadas dentárias, ossos, pedaços de crânios.
— Um viajante que esteve aqui entre 1812 e 1824, Freyress, escreveu que os escravos que morriam não eram sepultados, mas jogados “à flor da terra”. Qualquer chuva descobria os corpos. Eram descartados uma vez por semana. De vez em quando eram queimados, e os ossos, quebrados, para caber mais — disse Júlio.
Essa forma de descarte trazia uma dor para além da vida. Pela cultura africana, o rito de passagem e o sepultamento eram a garantia de que aquela pessoa iria se encontrar com seus ancestrais. Sem ritual e insepultos estavam condenados à solidão eterna, pela explicação de Júlio Cesar.
Havia uma dúvida sobre se era possível ter tantos corpos num lugar pequeno, mas as escavações mostraram que só no pequeno espaço da Rua Pedro Ernesto, debaixo daquela casa, é que foram encontrados ossos. Júlio chegou a um número espantoso do período que ele estudou. Os registros provaram que ali foram jogados entre os anos de 1824 e 1830 exatos 6.122 corpos de recém-chegados. Eram chamados “novos” porque nunca tinham sido “usados”. Eram “coisas novas”. Não tinham nome, porque não chegaram a ter donos. Morriam pelas condições precárias da viagem. Há cemitérios de escravos em outras partes, mas aquele é único porque só tem africano, recém-chegado. Pode ser fonte de análise de DNA para se saber mais sobre de onde viera
Ela tem um nome grande, Ana Maria de la Merced G. G. G. dos Anjos. Maior ainda, a sua tarefa: ter dentro de sua casa um dos mais preciosos sítios arqueológicos da escravidão brasileira. Sua vida foi revirada depois desse achado. A obra foi paralisada, e houve um tempo de curiosidade jornalística. Depois da confirmação arqueológica vieram alguns historiadores, como Júlio. Mas só em 2011, uma década e meia depois, é que se organizou o espaço com um memorial e uma pequena sala de palestras. Dona Merced abria sua casa à visitação para os poucos curiosos dessa história aflorada no chão da casa. O setor público não ajudava e ainda ameaçava de expropriação. Não sabe agora se será renovado o convênio que considera o local “ponto de cultura”. Se não for renovado, acaba o pequeno subsídio para a manutenção do local.
Ela se emociona, guarda tudo com carinho, cedeu parte da sua casa para preservação e sonha com mais proteção através do instituto que criou, sem fins lucrativos.
— A sensação que eu tenho é que fui escolhida para proteger isso. Não entendo por quê, me sinto fraca para a missão, mas protejo. Aqui estão restos de muita gente, muitas delas, crianças. Aqui está um pedaço da história de um crime contra a humanidade — diz.
O que mais espanta Cláudio Honorato, que estudou o mercado, é como toda a história foi esquecida. Está, como diz, em teses que vão pegando poeira nas universidades. Durante muito tempo acreditou-se no mito de que tudo havia sido queimado por Ruy Barbosa, quando ele destruiu os documentos fiscais para impedir que os donos de escravos pedissem indenização após a abolição. A historiadora americana Mary Karasch, nos anos 1980, faz parte da nova onda de busca de documentos em outros arquivos. As escavações abrem nova frente de trabalho.
Cláudio Honorato conta que o mercado ocupou mais do que a atual Rua Camerino, segundo a descrição do Marquês de Lavradio, o vice-rei. Há ainda casarões daquela época em pé. Neles, as famílias viviam no segundo andar, e embaixo havia galpões onde eles estavam expostos para a venda. Charles Brand, um viajante, relatou que num desses viu 300 crianças.
— Em alguns navios, o total de crianças podia chegar a 60% do total — disse Honorato.
No Rio, a História do Brasil está à flor da terra, e as escavações têm revelado preciosidades. Que sejam preservadas. Visitar a História é a melhor forma de entender o presente e mudar o futuro.