sábado, 24 de agosto de 2013

Clube dos Cutubas - Leopoldina/MG


Um leão africano adorna o emblema do Clube dos Cutubas, Leopoldina-MG. Trata-se de referência ilustre para um reinado de quase 90 anos de pura música de pretos. 
Desde 1925, em quase um século de resistência  ao racismo, o Cutubas, altivo em sua sede, ainda anima as noites de quem busca  samba, pagode, forró e outros ritmos, no  sobradinho pintado de um cinza triste, em nada combinando com a animação colorida  dos seus frequentadores.
O Cutubas é o lugar onde os negros sempre puderam entrar e se divertir - no outro clube da cidade eles eram barrados. Mas a herança escravista e latifundiária tem que engolir até hoje o quilombo urbano,  quarteirões adiante, território insurgente erguido e sustentado com o suor dessa gente que não tem medo de nada, leões orgulhosos de sua raça, de sua força e, principalmente,  de sua alegria que não morre nunca,  como um farol a nos guiar nesses longos séculos de intolerância.  
No Cutubas era onde se gastava as horas preciosas roubadas do trabalho duro  nas fazendas de café, na estrada de ferro, nas fábricas de tecidos, nas cozinhas e faxinas das casas grandes. Lugar de namoros, beijos, promessas e memória de outros carnavais.
A história do Cutubas está sendo contada por seus velhos conhecidos, dirigentes, frequentadores, músicos no projeto Memória e Patrimônio afro- descendente de Leopoldina-MG que estou coordenando e aprendendo muito. (Margareth C.Franklim)

Feminismos e justiça social: as lutas das mulheres negras não cabem em uma única palavra

Texto de Ana Claudia Pereira.
No século XVIII, negras alforriadas nascidas na Costa da Mina formavam, em solo brasileiro, domicílios compostos basicamente por mulheres. As que conseguiam acumular alguns bens deixavam heranças para escravas, ex-escravas e filhas. Muitas delas registraram em seus testamentos histórias de solidariedade em momentos de dificuldade material e doença, como mostram estudos da historiadora Sheila de Castro Faria. A palavra “feminismo”, para elas, não existia.
Na cultura iorubá, “ialodê” é um título conferido a mulheres de reconhecido valor para a comunidade, funcionárias de Estado, representantes das mulheres em instâncias de poder e governo, além de ser atribuído às orixás Oxum e Nanã. Jurema Werneck analisou o destaque e a liderança conquistadas por sambistas como a cantora Alcione junto às brasileiras negras, associando-as às ialodês. Para ialodês e sambistas, “feminismo” não é uma referência central.
“Feminismo” consolidou-se como o termo mundialmente conhecido para falar da luta das mulheres pela emancipação a partir da mobilização de europeias e norte-americanas. Reivindicando melhores condições de vida, imaginavam um mundo melhor a partir de suas próprias experiências sociais: para as operárias, a prioridade era adquirir direitos, enfrentar a exploração capitalista, melhorar as condições de trabalho nas fábricas; para as mulheres de elite, o termo muitas vezes esteve associado à demanda de mulheres brancas e ricas pela participação no mundo de privilégios sociais de homens também brancos e ricos. “Feminismo” foi, desde sempre, um termo disputado por diferentes projetos de sociedade, alguns mais igualitários, outros menos.
Viajando por muitos caminhos, conferiu ferramentas importantes para as lutas das mulheres latino-americanas, fossem elas novas ou antigas. E, ao criar raízes na região, ganhou a cara da nossa diversidade, moldou-se de acordo com a imensa desigualdade racial e social que caracteriza nossos países.

Foto de Tatiana Reis/Latinidades Afrolatinas no facebook.